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A Historia do Povo Bantu
A Historia do Povo Bantu

A Historia do Povo Bantu

 

A grande maioria dos 11.000.000 habitantes que formam a população de Angola, são de origem Bantu. No entanto, outra considerável parte é formada por misturas que começaram muito cedo: primeiramente. entre os diversos grupos que migraram para o território e depois com Europeus (na grande maioria Portugueses) durante a colonização.

 

Existem ainda algumas minorias que não são Bantu, como os Bochimane e um considerável número de Europeus. Há 3000 ou talvez 4000 anos atrás, os Bantu sairam da selva equatorial (a região que é hoje ocupada pelos Camarões e pela Nigéria) e dividiram-se em dois movimentos diferentes: para o Sul e para Este criando a maior migração jamais vista na áfrica. De causa desconhecida, esta migração continuou até ao século XIX. A selva equatorial era uma área de passagem impossível. Só o machado ou o cutelo, a rápida e nutritiva produção de banana e o inhame possibilitaram uma façanha que durou séculos. O excelente nível de nutrição deu lugar a uma invulgar explosão demográfica. A exuberância da selva equatorial, os rios e lagos das grandes savanas, tão bons para a agricultura e a descoberta do ferro - um mineral muito comum na áfrica - deram força à grande aventura. Caminhando sempre em direcção ao Sul. estes vigorosos, armados, organizados e jovens povos, venceram e fizeram escravos os indefesos pigmeus e os Bochimane. 
O nome Bantu não se refere a uma unidade racial. A sua formação e migração originou uma enorme variedade de cruzamentos. Existem aproximadamente 500 povos Bantu. Assim, não podemos falar de uma raça Bantu, mas sim de povo Bantu, isto significa uma comunidade cultural com uma civilização comum e linguagens similares. Depois de muitos séculos de movimentações, cruzamentos, guerras e doenças, os grupos Bantu mantiveram as raízes da sua origem comum. A palavra Bantu aplica-se a uma civilização que manteve a sua unidade e foi desenvolvida por pessoas de raça negra. O radical ntu, vulgar para a maioria das línguas Bantu, significa homem, ser humano e ba é o plural. Assim, Bantu significa homens, seres humanos. Os dialectos Bantu, e existem centenas, têm uma tal semelhança que só pode ser justificada por uma origem comum. Os povos Bantu, além do semelhante nível linguístico, mantiveram uma base de crenças, rituais e costumes muito similares; uma cultura com características idênticas e específicas que os tornam semelhantes e agrupados. 
Fora da sua identidade social, são caracterizados por uma tecnologia variada, uma escultura de grande originalidade estilística, uma incrível sabedoria empírica e um discurso forte e interessante com sinais de expressão intelectual. As línguas faladas hoje em Angola, são por ordem de antiguidade: Bochiman, Bantu e Português. Das três só o Português tem uma forma escrita. Os dialectos Bantu, apresentam uma unidade genealógica. Homburger, um eminente estudioso do Bantu diz que o primeiro ponto obtido no domínio da linguística comparada foi a unidade dos povos Bantu. Também diz, tendo em conta a história desta unidade, que os primeiros descobridores Portugueses viram que os Angolanos conseguiam comunicar com os povos da costa Moçambicana. Os Bantu Angolanos estão divididos em 9 grupos etnolinguísticos: Quicongo, Quimbundo, Luanda-Quioco (Tchôkwe), Mbundo, Ganguela, Nhaneca-Humbe, Ambó, Herero e Xindonga, que por seu turno estão subdivididos em cerca de 100 subgrupos, tradicionalmente chamadas tribos.

 

História Bantu

Kubokuesa kuna Kimbundu

(Introdução ao Kimbundo)
O Kimbundu e os grupos linguísticos africanos; o grupo Bantu, inserido na família Congo-Cordofaniana 
A grande maioria dos linguistas está de acordo em como, no Continente Africano, as línguas se dividem por quatro grandes famílias: a Afroasiática (inclui as línguas Berberes do Norte de África, as Cushitas da Etiópia e da Somália e ainda as semitas, abrangendo o hebreu, o árabe e o aramaico), a Nilo-Sahariana (constituída pelo Sudanês, o Sahariano e o Songhai), a Niger-Congo ou Congo-Cordofaniana (inclui numerosos grupos predominantes para sul do Sahara, de que destacamos os Bantu, para sul do Equador) e Khoisan (línguas dos Pigmeus da floresta tropical do Congo Democrático e línguas faladas “com estalinhos” pelos povos !Kung, vulgarmente conhecidos como Hotentotes, Bosquímanos ou, em Angola, Mucancalas)[1]. O Kimbundu é uma língua do grupo Bantu, pertencendo à família linguística Niger-Congo ou Congo-Cordofaniana. é plural de muntu, radical comum a quase todas as línguas do grupo. Muntu quer dizer indivíduo, pessoa, ser humano, significando, portanto, bantu, indivíduos, pessoas ou seres humanos. Em Kimbundu, a palavra mutu significa pessoa, sendo o seu plural, atu, pessoas, gente. Pelos exemplos acima indicados, podemos desde já concluir que a principal característica das línguas Bantu é o facto da flexão – isto é, a formação do género, feminino ou masculino, e do número, singular ou plural – se fazer por meio de prefixos.

Nações Bantu de Angola; diferenças dialectais nos subgrupos mbundu; o kimbundu de Ambaka 
O território de Angola situa-se quase exclusivamente dentro da área de difusão das línguas bantu. São nove as nações bantu de Angola, correspondendo a cada uma delas uma língua diferente:
Nação 
Idioma 
Bakongo 
Kikongo 
Mbundu (ou Ambundu) 
Kimbundu 
Lunda-Tchokwe 
Tutchokwe 
Ovimbundu 
Umbundu 
Ganguela 
Tchiganguela 
Nhaneka-Humbe 
Lunhaneka 
Herero 
Tchiherero

Ovambo

Ambo

Donga

Xindonga

De todas estas nações, só os territórios dos Mbundu, dos Ovimbundu e dos Nhaneka-Humbe se circunscrevem ao espaço angolano. Os das outras são todos atravessados pelas fronteiras políticas delineadas após a Conferência de Berlim de 1885. Os Bakongo, por exemplo, repartem-se pelos estados de Angola, Congo Democrático e Congo Popular, os Lunda-Tchokwe, cujo território é atravessado pelo rio Kassai, dividem-se entre Angola e o Congo Democrático, na província do Katanga (ex-Shaba), os Ganguela entre Angola e a Zâmbia e, finalmente, os Herero, os Ambo e os Donga, entre Angola e a Namíbia.Cada uma destas nações é dividida por diversos subgrupos, a cada um dos quais corresponde uma variante dialectal. A nação Mbundu reparte-se por 11 subgrupos (ou etnias), disseminados pelas províncias de Luanda, Bengo, Malanje, Kuanza Norte e ainda pequenas bolsas no Uíge e no Kuanza Sul. São, portanto, 11 as variantes do Kimbundu, consoante a difusão geográfica dos 11 povos que constituem esta nação: Ngolas, Dembos, Jingas, Bondos, Bângalas, Songos, Ibacos, Luandas, Quibalas, Libolos e Quissamas.O Kimbundu, à semelhança das outras línguas bantu, não tem tradição escrita. Os primeiros a escrevê-la e a estudar-lhe as regras gramaticais foram os missionários capuchinhos e jesuítas de Ambaka. Fizeram-no com o fim de ensinar a língua portuguesa e o catecismo aos africanos. Foram eles que introduziram os princípios ortográficos ainda hoje vigentes.Nos séculos XIX e XX surgem estudiosos do Kimbundu, de onde destacamos Héli Chatelain, Cordeiro da Matta, António de Assis Júnior e Óscar Ribas.
Ortografia e fonologia 
O Kimbundu deve sempre grafar-se com escrita sónica. As cinco vogais, a, e, i, o, u, são todas abertas. Antes de outra vogal, ie u funcionam como semi-vogais.mbcomo em mbambi, “gazela”, “frio”nvcomo em nvula, “chuva”nd como em ndandu, “parente”ngcomo em ngiji, “rio”nj como em njila, “pássaro”, “caminho”h como em hima, “macaco”, distinto de ima, “coisas”O m e o n servem para nasalar, daí que tenham surgido, por exemplo, vocábulos como Angola derivado de ngola (rei) ou embondeiro derivado de mbondo (árvore).O h é sempre aspirado, como em henda (graça, misericórdia).O r é sempre brando e pode ser trocado por d ou, menos frequentemente, por l. Por exemplo, kitari ou kitadi (dinheiro), ditadi ou ritari (pedra); kudia ou kuria (comer); kolombolo ou koromboro (galo).O k substitui sempre o q da língua portuguesa, bem como o c antes de a, o e u.O g nunca tem o valor de j, mesmo antes de e ou i. Ndenge (mais novo) e ngindu (trança) lêm-se ndengue e nguindu.O som nh deve, em nosso entender, escrever-se como em português, embora haja quem escreva ni ou ny. Por exemplo, dikanha, dikania ou dikanya (tabaco).Não vemos, de resto, necessidade do emprego do y em Kimbundu, embora certos autores o usem enquanto prefixo para fazer o plural de ki. Em tal caso sugerimos a grafia i.

Classes nominais e concordâncias 
Nas línguas bantu, os nomes substantivos ordenam-se em classes ou grupos consoante os pares de prefixos que definem os singulares e os plurais. O Kimbundu tem 10 classes nominais.

CLASSES

SINGULAR

PLURAL

EXEMPLO

1ª mu
a
mutu, atu – pessoa(s)


mu
mi
mutue, mitue – cabeça(s)


ki
i
kima, ima – coisa(s)


ri
ma
ritari, matari – pedra(s)

u
mau
uta, mauta – arma(s)


lu
malu
lumbu, malumbu – muro(s)

tu
matu
tubia, matubia – fogo(s)

ku
maku
kuria, makuria – comida(s)


--
ji
mbiji jimbiji – peixe(s)

10ª
ka
tu
mona tuana – criança(s)

Estes prefixos absolutos, que designam a classe a que o nome pertence e o número em que se encontra, distinguem-se dos prefixos concordantes, que enumeraremos consoante as classes e o número a que correspondem.
CLASSE SINGULAR

PLURAL


ua
a


ua
ia


kia
ia


ria
ma


ua
ma


lua
ma


tua
ma


kua
ma


ia
--

10ª
ka
tua

 A concordância faz-se, em kimbundu, através do prefixo do substantivo que inicia a frase e lhe serve de sujeito.Exemplifiquemos:Mubika uami uakala umoxi / Abik’ami akala atatuO meu escravo era um / Os meus escravos eram trêsMukolo uami uakala umoxi / Mikolo iami iakala itatuA minha corda era uma / As minhas cordas eram três
Kialu kiami kiakala kimoxi / Ialu iami ikala itatu 
A minha cadeira era uma / As minhas cadeiras eram três Rilonga riami riakala rimoxi / Malonga mami makala matatu O meu prato era um / Os meus pratos eram três
Uta uami uakala umoxi / Mauta mami makala matatu 
A minha arma era uma / As minhas armas eram três
Lumbu luami luakala lumoxi / Malumbu mami makala matatu 
O meu muro era um / Os meus muros eram três
Tubia tuami tuakala tumoxi / Matubia mami makala matatu 
O meu fogo era um / Os meus fogos eram três Kuria kuami kuakala kumoxi / Makuria mami makala matatu A minha comida era uma / As minhas comidas eram três
Mbiji iami iakala imoxi / Jimbiji jami jakala jitatu 
O meu peixe era um / Os meus peixes eram trêsKamona kami kakala kamoxi / Tuana tuami tuakala tutatuA minha criança era uma / As minhas crianças eram três.

Menino pobre de Luanda, com o seu papagaio de papel, desenho de Neves e Sousa.

Um pouco de cultura Bantu
Mpambu na língua Kikoongo, uma das linguas faladas em Angola(África), significa: Encruzilhada. N`jila em Kikoongo significa: Caminho.
Pambu N`jila, que pode ser traduzido como “Aquele que conhece o caminho mais curto”, são os mensageiros que transitam entre o natural e o sobrenatural, trazendo aos homens os desígnios dos Makisi e levando a Eles as suplicas e as oferendas dos homens. Receberam por este trabalho o título de Aluvaiá (mensageiro). São sempre e em qualquer ocasião os primeiros a serem chamados, a receberem oferendas, etc. São os nossos Guardiões (Nlundi), que abrem e fecham as “porteiras” de nossa aura, permitindo ou não a penetração das energias com as quais lidamos e convivemos durante toda a nossa vida. Se nosso contato com Eles for fraco, menos força Eles têm para nos defender. A cada vez que levamos nosso pensamento a Eles, acendemos uma vela oferecendo-a a Eles, uma garrafa de cachaça entregue na encruzilhada, uma rosa vermelha, seja o que for, estamos nos ligando a Eles e, portanto, fortalecendo nossa ligação. Ao acordarmos devemos agradecer a Nzambi Mpungu pela noite e pela nova oportunidade de mais um dia e saudarmos o nosso Guardião solicitando que possamos contar com Ele por mais um dia.Muitos querem igualar os Pambu N`jila ao diabo, por total ignorância, colocando Neles chifres e rabos. Diabo vem da palavra diavolo que significa “o mentiroso” e a palavra demônio é formada por demos, que significa povo (democracia, demonstração, etc.) e ions, que significa ligação; portanto podemos afirmar que Pambu N`jila é um demônio e que o diabo nem demônio é. Em kikoongo a palavra que os padres que montaram o dicionário de português-kikoongo e kikoongo-português, encontraram para diabo foi “temba” que, ao pé da letra, significa “o mal dentro de nós”, pois nossos Ancestrais, assim como nós, não acreditamos em um ser extracorpóreo que nos force ou nos conduza a praticar o mal contra a nossa vontade. A palavra tentação vem de tester (grego) que significa teste ou prova. Quando caímos em tentação, na realidade estamos enfrentando um teste ou uma prova, que só nossa consciência, pelo livre arbítrio, poderá suplantar ou não, deixando-nos, sempre, responsáveis pela conseqüência de nossos atos, pensamentos e palavras.As cores reservadas a eles são a preta e a vermelha juntas. Embora respondam a qualquer hora, dia e lugar, nós lhes reservamos as segundas-feiras.

Koluki: O Imaginário Bantu na Cultura Angolana

Contrariamente ao que pretendem fazer convencer alguns, sem sucesso, o imaginário indígena brasileiro, embora marginalizado, é basicamente índio. A dignificação do negro, agrupamento humano de origem alógena, na literatura brasileira é um fenómeno recente, mais a mais, na telenovela, em que ainda aparece a fazer os papéis mais baixos reservados na escada social, - moleque ou doméstica.
Vale recordar que, só com a Semana da Arte Moderna em 1922 é que o negro brasileiro conquistou o seu papel de sujeito na literatura brasileira.
Pretender o contrário para a literatura angolana é falsear a evolução do fenomeno literário angolano, como procuraremos demonstrar à luz da raiz da sua cultura. Ou seja, trago o assunto doutro modo: “in limini”, o angolano assume-se como sujeito da sua literatura no conflito civilizacional entre o colono e o colonizado. A literatura angolana emerge da manifestação inequívoca deste direito à diferença, uma identidade literária distinta da potência colonial, como uma reação ao labéu racista da inferioridade congenital do negro angolano, será estribado na polémica do “A voz de Angola clamando no deserto”, em 1902. “Mutatis mutandis”, já vai mais de um século, e a história parece querer repetir-se a todo gás e a todo tempo... 
O imaginário angolano é, primacialmente, veiculado nas línguas maternas angolanas de origem bantu, cujas ocorrências são detectadas em empréstimos e coloquiasmos embebidos na literatura angolana, para não falarmos dos provérbios, fábulas, contos e adivinhas, recolhidas e trabalhadas por Óscar Ribas, Raúl David, Costa Andrade, S. Cacueji, Rosário Marcelino, etc, ou mesmo atravessados nos textos narrativos e poéticos de Agostinho Neto, Viriato da Cruz, António Jacinto. O pregão e o drama do “modus vivendi” da quitandeira, metonímia do sofrer colectivo (lutando pela vida), é paradigmático nestes autores, bem como enquanto cultora e transmissora dos valores antigos de geração para geração, veiculados por via da oralidade.
Jofre Rocha, Jorge Macedo, Timóteo Ulika, expressamente em “Kandudu”, sem esquecer os prosadores e poetas da nova fornada despoletada nos anos 80, nomeadamente, António Fonseca, recolhendo peças da oralidade kikongo e não só, Jacinto de Lemos, este resgata os coloquialismos dos musseques, bebendo empréstimos linguísticos decorrentes da interpenetração idiomática entre a primeira e segunda línguas. O mesmo ocorre com outros poetas como Panguila, Curry Duval, Lopito Feijó, Luís Kandjimbo e dos também ficcionistas Cikakata Mbalundu e Rosária da Silva e Miguel Júnior, este último no seu texto narrativo “kikinhas da fonseca”, cuja indumentária, autêntico modelo de representação cultural e simbólica dos ilhéus, do “hinterland” de Luanda, tende a desaparecer, daí que os escritores e demais homens de cultura deverão curar da sua reabilitação e preservação.
A contribuição desses e outros autores não se esgotam no âmbito sócio-linguístico, assim sendo, fazem apelo ao ambiente e espaço tributário do nosso contexto “local”, geografia física e emocional que presidem o aludido imaginário identitário.
A literatura angolana é uma expressão da cultura angolana e africana, pois, por mais que doa a muito boa gente em “crise permanente de identidade”, a literatura angolana não é resultante da cultura portuguesa, embora seja primacialmente, não exclusivamente, cultivada em língua portuguesa. Esta é devedora do contexto plurilinguístico e multicultural das suas ocorrências em Angola, que se distingue e contradistingue do vernáculo falado em Portugal. Mesmo em Portugal, a língua não ocorre da mesma maneira em Trás os Montes, em Setúbal ou em Belém e no Algarve. Basta ver que enquanto uns falam vinho outros falam binho; enquanto outros falam Bié outros ainda falariam Vié, o que já deu motivo para “trazer água na barba” ou “pôr as barbas de molho, quando a palhota do vizinho estiver a arder”, - provérbios que dizem respeito ao imaginário português e que presidiriam o imaginário colonial ou neocolonial nos dias que correm. De resto, o imaginário português será o filão espiritual que enforma a sua cultura, substrato em que assentará a literatura portuguesa e seus afluentes. Disso se ocupara com proficiência e autoridade o pensador português Eduardo Lourenço. Convenhamos ainda que, a literatura portuguesa será aquela em que se deverá encaixar a literatura exótica cultivada por colonos ou neo-colonos em Angola. O caso de Geraldo Bessa Victor e companhia é paradigmático.
Nestes termos, a literatura angolana, apesar de exercitada maioritariamente em Português, traz no seu substrato a cultura angolana, cuja matriz é africana e bantu. A literatura angolana será, por maioria de razão, representada simbolicamente por aquela franja que se revê basicamente nesta matriz bantu, tudo resto será subsidiário e periférico, e qualquer tentativa de colocar um subgrupo marginal (no sentido antropológico do termo) ou que se assume como “gueto” sócio-linguístico, cultural ou rácico no seu centro, estará viciada e peca por defeito ou por excesso (dependendo do julgamento de valor de cada um), `a partida , refletindo uma profunda crise de identidade cultural, geradora de conflitos ainda que latentes.

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DESIGNAÇÃO: MWANA MPWEVO 
DESCRIPÇÃO: Máscara feita em madeira, representando figura feminina, utilizada em cerimônias ligadas aos ritos da puberdade e a outras cerimônias sociais.
ORIGEM: Ovingangela
FUNÇÃO: Animadora de cerimônias
MATÉRIA: Madeira e Fibras
DIMENSÕES: 30 cm x 25 cm
A peça Mwana Mpwevo, é feita em madeira e fibras vegetais representando a beleza da mulher Ngangela. Ela retratada de forma ousada, os pormenores dos elementos que integram o conceito de beleza feminina no imaginário dos Ngangela. É sempre usada por um homem, em cerimônias sociais ou rituais.
A face em madeira tratada, banhada em sucos vegetais avermelhados, e o toucado elaborado a partir de fibras vegetais.
A máscara Mwana Mpwevo atualiza o papel determinante da mulher com base no regime matriarcado.
É muito apreciada na comunidade, pelo que não admira o pormenor do seu embelezamento e o naturalismo de suas feições. De realçar o realismo inerente às tatuagens, particularidade muito apreciada na beleza da mulher Ngangela.
O toucado é feito com borbotos em fibras vegetais empapados em argila vermelha. De trás de toucados e na base da máscara aparece rede que se liga ao fato do bailarino.
DESIGNAÇÃO: MBUNDA 
DESCRIPÇÃO: Máscara com a função de dispor bem. Feita em fibras vegetais, varas, missangas, alfinetes e botões.
ORIGEM: Ovingangela
FUNÇÃO: Cria buo disposição entre os participantes em cerimônias rituais e sociais.
MATÉRIA: Fibras vegetais, troncos, missangas, alfinetes de latão e botões.
DIMENSÕES: 50,5cm x 20 cm
A máscara Mbunda está presente nas cerimônias mais diversas (rituais da puberdade, casamento, nascimento, entronização), e tem como função primeira criar um ambiente hilariante entre os circundantes. O gesto do bailarino recai principalmente na exibição de movimentos eróticos, utilizando muitas vezes acessórios para propositadamente provocarem momentos de feição cômica no evoluir da sua exibição.
Participa em cerimônias várias, fazendo peditórios a favor dos atores sociais intervenientes nas referidas cerimônias.
Também designada por Likisi ou Cinganji, é feita de fibras vegetais e ornamentada com partícula em argila, botões e alfinetes.

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Kibatulu/Mambu
(Artigo/Opinião)
Estatuetas: arte popular com símbolos mágicos
O pensador é a mais famosa estatueta angolana. É considerada uma obra de arte fidedignamente angolana, figura emblemática do país, que aparece, inclusive, na filigrana das notas de kwanza, a moeda do país.

Katwambimbi
Na tradição cultural angolana, as estatuetas são usadas em ritos mágico-religiosos, desempenhando a função de amuletos que conteriam forças ou seres sobrenaturais. 
Uma das práticas utilizadas nesses ritos e na adivinhação, em consulta feita por uma pessoa interessada numa intervenção contra um mal, seja ele físico (doença) ou social. O sacerdote (nganga) utiliza vários processos de adivinhação, geralmente com objetos que simbolizam qualquer coisa, como estatuetas. 
A adivinhação na região de Luanda é feita de modo simplificado, usando apenas o muxakatu, pedaço de madeira talhado com várias ranhuras, onde é friccionada uma vara. No nordeste de Angola, e etnia lunda-tchokwe ainda usa o cesto de adivinhação, chamado de ngombo, do qual o sacerdote adivinhador retira pequenas figuras esculpidas em madeira, as quais irão determinar a sorte do consulente. Foram estas figuras que resultaram na mais famosa estatueta angolana, “O Pensador”. 
É considerada uma obra de arte fidedignamente angolana, uma figura emblemática do país e que aparece inclusive na filigrana das notas de kwanza, a moeda nacional. Mas o Pensador tem origem numa tradição “inventada” ou “convencionada”. 
Na verdade, os primeiros Pensadores angolanos foram esculpidos nas oficinas do Museu de Dundo, em data posterior a 1947. Neste ano, por iniciativa da Diamang, a então Companhia dos Diamantes da Luanda, foi criado no povoado de Dundo um museu de arte tradicional e de coleções etnográficas e arqueológicas. 
Os funcionários da empresa, na maioria belga e portuguesa, chegaram a contratar artesãos locais e instalaram-nos em oficinas, incentivando-os a esculpir na madeira ou a modelar no barro figuras que fossem genuinamente “nativas”, mas ao mesmo tempo interferindo, no sentido de aproximar as formas de uma estética que julgavam ser mais convencional, no sentido ocidental. 
Houve casos, por exemplo, de figuras míticas africanas cujos pés, seguindo a tradição, eram grandes e foram reduzidos por razões “estéticas”. A invenção do Pensador angolano deve-se a um caso destes. Ao conhecer figuras usadas nos ritos de adivinhação, os europeus induziram os africanos a criar uma figura que, de algum modo, se assemelhasse a uma estatuária de origem grega, particularmente cara aos escultores europeus renascentistas, como Leonardo da Vinci ou Rodin: o Pensador. 
Na origem do Pensador estão algumas figuras do cesto de adivinhação tahi (tchokwe). Se virmos o simbolismo de qualquer uma delas, verificamos que, curiosamente, nenhuma sugere atitude introspectiva, pelo menos na acepção grega clássica. 
Katwambimbi é uma dessas figuras. Representa um momento de lamentação (carpideira).O seu aparecimento vaticina infortúnio, se junto dela não surgir outra peça que amenize esse prognóstico. Personagem figurada com as mãos à cabeça, está relacionada com feitiços mbimbi, com os quais o adivinho previne o consulente contra injúrias, aconselhando o uso de amuletos para defesa principalmente das crianças. 
A estatueta designada por kalamba e kuku wa Pwo (ascendente feminino), tem uma das mãos no queixo e a outra colocada sobre o ventre. Personifica o estado de apreensão, agonia e receio de fantasmas; vaticina mal iminente e pode indicar que o consulente não tem sorte porque esqueceu os seus antepassados (paternos e maternos) ou que uma herança não foi bem repartida pelos seus descendentes. Se a figura aparecer de cabeça no meio das outras, é sinal de vida, mas se surgir deitada ou de pé, aumentam as preocupações de uma futura mãe. Junto ao símbolo upite (riqueza) indica dívida ou roubo; com chota (casa do povo) prevê prejuízos na casa, no gado ou na agricultura. 
Estatueta de homem e mulher unidos pode anunciar ao consulente descendência, questões resultantes de dote da noiva não satisfeito, ou lembrar compromissos entre duas pessoas. Se for uma estatueta estilizada representando três, quatro ou cinco pessoas em fila indiana, sobre uma base comum, vaticina um mal apanhado durante viagem ou proveniente de coisas que foram transportadas; com upite (riqueza), bom prestígio, e com tchilôwa (feitiço), é fatídico. Lembra ao viajante que deve respeito aos ídolos que encontrar no seu caminho e que só se pode abordar o feiticeiro quando este estiver sozinho, longe do povoado.

Já uma estatueta de mulher grávida significa recomendação para o consulente construir um altar próprio e usar amuletos propícios à natalidade, como jinga, chisola ou ruemba, para evitar espíritos de mulheres que faleceram durante o parto.




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Taata kiamuloji

Inzo Nkongonibila Monte Mor-SP.

Jardim Colina1.19.99141.5282

 

 




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